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Tereza de Benguela e a união entre Latino-Americanos e Caribenhos

O noticiário da semana destacou a participação do presidente da república em reunião da cúpula entre a Comunidade de Estados Lati­no-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia. Em janeiro, após mais de quatro anos de afastamento, o Brasil voltou a compor o bloco criado no México em 2010 e atualmente presidido por Alberto Fernandez, chefe do Executivo da Argentina. A Celac é um bloco regional intergovernamental formado por 33 países, seu objetivo é ampliar um projeto de integração regional e discutir a solução de problemas comuns a todos os seus membros.

Durante o encontro os países da União Europeia procuraram parceiros confiáveis para diversificar cadeias de valor e reduzir dependências. Para isso ofereceram um plano de investimento verde (lítio para novas tecnologias, energias renováveis, hidrogênio verde) o chamado “Global Gateway”. Os latino-americanos querem parceria estratégica para a industrialização de matérias-primas, acrescendo valor às exportações e gerando empregos e renda, mas principalmen­te investimentos com transferência de tecnologia.

A Celac já havia se reunido no início do ano, naquela oportunidade nosso presidente conclamou os vizinhos a elaborarem estratégia de de­senvolvimento comprometido com a redução das diversas dimensões da desigualdade, especialmente reduzindo a fome e a pobreza.

Antes mesmo da formação da Celac, vários setores já discutiam a integração dos povos latino-americanos e caribenhos em torno de pautas comuns. Foi assim que no ano de 1992, realizou-se o 1º encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, objetivando a união destas mulheres e a visibilização da luta contra o racismo e o machismo. Naquele encontro surgiu a Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-Caribenhas que conseguiu junto à ONU o reconhecimento do dia 25 de julho como o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha.

No Brasil, desde 2014 com a edição da Lei 12.987, também come­moramos o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Conhecida como a Rainha Tereza, essa figura aos poucos tem sua importante história resgatada. Ela viveu no século XVIII e assumiu a liderança do Quilombo Quariterê após a morte de seu marido, e tam­bém líder do local, José Piolho. Por duas décadas liderou a resistência de negros e indígenas e desenvolveu um governo do quilombo no es­tilo de um Parlamento. Com destacado sistema de defesa, a comuni­dade vivia da plantação de algodão, milho, banana, entre outros. Um verdadeiro exemplo para os colonizadores que apenas exploravam as riquezas e as pessoas locais.

Enquanto por todo o mundo, eclodem casos de racismo, pre­conceito e discriminação, as grandes lideranças políticas entendem a necessidade de ampliar o diálogo e esforços para o trabalho em parceria, fundamental para o enfrentamento das diversas crises contemporâneas, entre as quais a pobreza, a insegurança alimentar e as desigualdades sociais. Também compreendem que entre as pessoas e nações deve prevalecer o princípio da equidade e responsabilidades comuns, respeitadas as capacidades de cada um.

A América Latina e o Caribe possuem valores e interesses econômicos, culturais e sociais que devem ser compartilhados. Desta forma se torna inadmissível que latinos sintam prazer em chamar brasileiros de macacos, tão pouco brasileiros zombarem da crise econômica argentina ou da situação delicada que a Venezuela vivencia. Como escreveu Ferreira Gullar “Nós, latino-americanos somos todos irmãos, mas não porque tenhamos a mesma mãe e o mesmo pai: temos é o mesmo parceiro que nos trai. Somos todos irmãos não porque dividamos o mesmo teto e a mesma mesa: divi­samos a mesma espada sobre nossa cabeça. Somos todos irmãos não porque tenhamos o mesmo braço, o mesmo sobrenome: temos um mesmo trajeto de sanha e fome. Somos todos irmãos não porque seja o mesmo sangue que no corpo levamos: o que é o mesmo é o modo como o derramamos”.

Tereza de Benguela apontou um caminho de unidade em torno dos princípios da vida, liberdade e bem comum. Cabe às nossas auto­ridades, lideranças políticas e a cada um dos mais de 660 milhões de habitantes desta parte do planeta um esforço comum, especialmente para erradicar a pobreza que atinge um terço da população.

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