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O PIBinho, o sociopata e o Doido

Na relação de notícias desagradáveis da semana, o anúncio do PIB 2020 do Brasil mereceu destaque, com retração de 4,1%, a pior em 25 anos. Representando a soma de todos os bens e serviços finais produzidos por um país, o desempenho do PIB leva em conta os setores da agricultura, indústria e serviços (o maior deles). O único que cresceu foi a agricultura graças a ótima safra, aos preços e à de­manda elevados. O Brasil deixou o grupo das 10 maiores economias do mundo, caindo para o 12º lugar.

A pandemia pode explicar muito, mas não pode ser a única jus­tificativa para o desempenho, já que todos os países foram atingidos, no entanto, alguns cresceram e outros tiveram reduções menores e já estão em recuperação. Uma análise mais apurada mostra que onde foram adotadas as melhores práticas de prevenção e controle da Covid-19, a retomada econômica foi mais efetiva.
Se medidas sanitárias, vacinação e sistema de saúde estruturado e com os recursos necessários parecem ser os melhores ingredientes da receita para salvar a economia e, principalmente, salvar vidas, a falta de sintonia entre os diversos níveis de governo e as trapalhadas do executivo federal em nada ajudam.

O vírus é uma realidade, não adianta negar, também não dá para apostar todas as fichas em medicamentos ou tecnologias que não possuem eficácia certificada. A insistência de algumas lideranças em tentar desacreditar a vacina e as orientações dos sanitárias e infec­tologistas somente colabora para o aumento de casos. Um exemplo típico é o presidente da república que, na semana onde foram regis­trados recordes de óbitos, afirmou ser preciso parar de “frescura” e “mimimi” com a pandemia e indagou até quando as pessoas ficarão “chorando”. Para Bolsonaro, é preciso liberar, “enfrentar nossos pro­blemas”. Talvez não tenha consciência de que é um deles.

Sem liderança e sem exemplos, grande parcela da popula­ção adota o comportamento infantil e inconsequente. Festas, farras e aglomeração são noticiados cotidianamente. Milhares de mortes diárias não sensibilizam, UTI´s lotadas, colapso nos hospitais, corpos amontoados em contêineres, cemitérios sem vagas também não. Parece que a vida perdeu o valor e estamos ficando insensíveis ou malucos ao ponto de entender que o luto por alguém amado é “mimimi”.
Para seus admirados o presidente é um homem sincero e de personalidade forte, para os desafetos é um sociopata. Sociopatas são pessoas que têm transtorno de personalidade. Antissociais, eles não possuem empatia e não conseguem entender os sentimentos dos outros. Frequentemente quebram regras ou tomam decisões impulsivas sem se sentirem culpados pelos danos que causam.

No meio de tanta insanidade surgiu uma voz de equilíbrio e discernimento, justamente de quem carrega a alcunha de doido. O técnico Lisca Doido, do América de Minas Gerais criticou a divul­gação da tabela da Copa do Brasil 2021 com oitenta clubes “Nós vamos levar com delegação de 30 pessoas de um lado para outro do país”, disse o técnico ao conclamar os mandatários do futebol a reverem a medida. “Nosso país parou, gente. Não tem lugar nos hospitais, eu estou perdendo amigos, amigos treinadores. É hora de segurar a vida. Nós estamos apavorados”, completou. Enquanto a grande maioria dos profissionais do futebol continua omissa, Lisca Doido tomou posição e sagrou-se campeão da consciência.

Para o PIB voltar a crescer, será necessário a economia voltar a girar aumentando produção e consumo de bens e serviços. Para salvarmos vidas precisamos de ferramentas, estrutura e recursos indispensáveis para o trabalho dos profissionais da saúde. Para que tudo isso ocorra é fundamental que os governantes sejam compe­tentes e equilibrados. Enquanto persistirem os desatinos, a maioria da população seguirá insegura e com a sensação de abandono.

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