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Não é incompetência. Já se trata de crime

A tragédia brasileira se aprofunda. A semana passou com sucessivos recordes de contaminados e mortos pelo covid-19. Já se prevê que poderemos ser os campeões do mundo, ultrapassando até mesmo os Estados Unidos. E fico pensando aqui com meus botões: como é tão sério aquele momento de cada um de nós, sozinho diante da urna eletrônica, votar em determinado candidato. Repito aqui alguma coisa que já vai se tornando lugar comum: “o voto não tem preço, tem consequências”. E que consequências… Estamos sofrendo muito com as consequências do voto de muitos dos brasileiros em 2018.

Não dá pra dizer que não sabia…
Não consigo continuar generoso, como fui no passado, com a escolha feita por eleitores dos quais discordava. Eu mesmo afirmei, várias vezes, que o eleitor nunca erra, mas que fazia suas escolhas com base nas informações que possuía. Cada vez, mais esse raciocínio vai caindo por terra. Bolsonaro se deixou conhecer muito bem antes e durante a campanha. Prometeu fazer exatamente o que está fazendo, e pior, tudo se trata de uma calculada política de extermínio. Extermínio das instituições. Extermínio da democracia. E, agora, até extermínio das pessoas! Não dá pra dizer que não sabia…

Há aqueles que votaram nesse projeto de extermínio, influenciados por várias razões, como o antipetismo, fakenews, polarização ideológica, “porque o pastor man­dou”, etc. Boa parte hoje tem até vergonha de falar em quem votou… Ainda consigo ser um pouquinho generoso com estes. Mas há os recalcitrantes que, de uma forma completamente irracional, teimam em defender o indefensável. Assumem como uma cruzada pessoal todas as mentiras e maldades que estão sendo feitas contraa nossa população. E a maior parte dos que se dizem evangélicos embarcada neste projeto como mostram as pesquisas de opinião. É inacreditável.

Sabotadores da vacinação
A tragédia brasileira não é mais consequência de decisões políticas e adminis­trativas no campo da incompetência dos governantes de plantão. Não! O que temos hoje não é um governo incompetente, mas um governo criminoso. Já são mais de 250 mil mortos. Repito: não são erros.

É tudo uma política arquitetada, muito bem planejada. No primeiro momento, negaram que houvesse uma pandemia. Depois, minimizaram-na com receitas médicas estapafúrdias que hoje já estão no Tribunal de Contas. Negaram a ciência, sabotaram todas as regras básicas de proteção, até o uso de máscaras. Agora, trabalham diuturnamente contra as vacinas.

Não há incompetência diplomática na incapacidade do governo de negociar a compra de vacinas. Equivoca-se quem pensa que Bolsonaro tenta, mas falha por imperícia, por não saber o que deseja, e por culpa do Ernesto Araújo. Não é nada disso. Bolsonaro e Araújo são, deliberadamente, sabotadores da vacinação. Eles não querem comprar a vacina, não querem vacinar, não querem um plano nacional para salvar a população. E mais uma vez: trata-se de um projeto de extermínio. Um ato criminoso. E não me venham com a lorota da liberdade de expressão, porque são apenas opiniões. Não são. É um projeto fascista.

Mentira e desprezo pela vida
Margareth Dalcomo, uma das nossas mais respeitadas e admiradas cientistas, que tem dado sua vida nessa guerra a favor da vida, saiu de sua tradicional postura comedida. Ela perdeu também a sua paciência. Um texto com chamada para um vídeo é um dos conteúdos mais compartilhados há mais de uma semana nas redes sociais. Pesquisadora da Fiocruz e presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, ela aparece ao lado de uma imagem de São Sebastião, protetor contra a peste. Abre-se qualquer espaço virtual e lá está a sua foto. Ela afirma categoricamente a incompetência de se adquirir vacinas como um ato criminoso.

“Não há nada que possa justificar, a não ser a desídia absoluta”, afirma Dalcomo. A incompetência de que fala a cientista é um complemento para amarrar sua fala, porque ela vive as tratativas em torno das vacinas desde o começo. O que importa é a referência à desídia, ou à negligência ou a que outro nome possa ter a ação (ou inação) deliberada pela sabotagem da vacinação. Essa é a tragédia brasileira que se aprofunda. E seu lado pior é o apoio aberto ou envergonhado que grande parte da população lhe presta. Desde aqueles que não usam máscaras até aqueles que vão para as redes sociais militarem pela mentira e desprezo pela vida.

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