Tribuna Ribeirão
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Histórias dos museus em minha vida – Parte II 

Edwaldo Arantes *
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O Campus da USP em Ribeirão Preto está diretamente ligado à história da cidade, da fazenda de café ao centro de excelência em ensino e pesquisa. 

Sua origem, quando o fazendeiro João Franco, plantador de café, criador de gado e comerciante de escravos, comprou terras na região para formar a Fazenda Monte Alegre.

Foi extensa e significativa a presença do Professor Doutor Zeferino Vaz na história da educação do Estado de São Paulo, particularmente em instituições do ensino superior. Foi Diretor da Faculdade de Medicina Veterinária da USP (1936-1947), criador e Diretor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (1951-1964).

Os planos do Professor eram ambiciosos, fundar em Ribeirão Preto uma universidade pública municipal, mas a interferência e o comando dos “Coronéis”, o impediu, fazendo com que o mestre criasse a UNICAMP, sendo também seu Reitor, hoje, uma da mais conceituadas instituições educacionais do mundo.

Mas esta é outra história, voltemos ao Museu Histórico e de Ordem Geral “Plínio Travassos dos Santos” e ao Museu do Café “Francisco Schmidt”, localizados no Campus da Universidade de São Paulo, USP/RP.

Durante nossa gestão como dirigente dos museus, localizados dentro de uma bucólica mata nativa com uma diversidade botânica exuberante, ficamos imaginando como seria importante levar algumas peças dos museus para um lugar de grande acesso público proporcionando que mais pessoas pudessem ter acesso, conhecimento e posteriormente, visitar-nos, in loco.

Foi a pioneira experiência de um museu itinerante.

Pensei no RibeirãoShopping, solicitei uma reunião com o então Superintendente, Luiz Médici, uma pessoa avançada, de raro tino comercial e uma visão profunda de promoção e marketing.

Questionou-me sobre as peças, seus formatos e tamanhos, como mineiro prevenido que sou, trazia fotos, principalmente da carruagem que pertenceu ao maior plantador de café do mundo, à época, Coronel Francisco Schmidt, proprietário da Fazenda Monte Alegre, onde hoje se localizam os Museus e a Universidade de São Paulo, em seu Campus/USP-RP.

Corria uma história que o Coronel usava a carruagem para seus flertes e affaires em namoricos e galanteios às moçoilas da cidade e os chamegos com as dançarinas francesas, comuns em nossa cidade, principalmente,  no Hotel Palace, hoje, Centro Cultural Palace.

O Médici ficou muito empolgado, reuniu sua equipe, onde explicamos em detalhes como seria a exposição.

Levaríamos a carruagem, relíquia do passado, toda em madeira e bancos de couro, a famosa coleção de moinhos italianos usados para o processamento manual dos grãos de café, pilões, máquinas destinadas a descascar e ventilar o café, conjunto de xícaras em porcelana, grãos de qualidades diferentes de café, embalagens de defensivos usados para controlar pragas e pestes que atacavam o cafeeiro, além de diversos objetos da rica história do café em nossa região.

Também uma exposição fotográfica, contando a trajetória da saga do café, na Alta Mogiana.

A Curadoria ficou a cargo da brilhante e talentosa, Tânia Registro, Diretora do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto.

Definimos que a montagem seria feita à noite, os patrocinadores e apoiadores culturais tiveram presenças imprescindíveis, o Café Utam S/A – União dos Torrefadores de Café da Alta Mogiana contribuiu com diversos sacos antigos de café com seus grãos, o Sistema COC de Educação e Comunicação hoje, SEB – Sistema Educacional Brasileiro, confeccionou ricos e detalhados folders que seriam distribuídos aos visitantes, para o entendimento e conhecimento da  história do “Ouro Verde”.

Na noite marcada, depois de um esforço e a colaboração de muitos, devido ao tamanho e o peso, conseguimos retirar a carruagem que nunca havia deixado o local, bem como os demais objetos.

A Guarda Civil Municipal e a Polícia Militar com seus batedores, exposta sobre um caminhão guincho foi seguindo a carruagem com muitas luzes e foguetórios, demos uma volta pela Via do Café, Centro, Avenidas, Nove de Julho, Portugal e Costábile Romano, rumamos ao Ribeirão Shopping, a população saiu às ruas, as janelas dos edifícios apinhadas, foi uma verdadeira apoteose.

A exposição ficou no átrio do Ribeirão Shopping em sua entrada principal, antes das suas diversas etapas de intervenções e crescimentos.

A Direção avisou que só poderíamos ficar por dez dias, o sucesso foi tão grande que permanecemos dois meses.

* Agente cultural 

 

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