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Filme de zé do caixão quebra maldição

Por Matheus Mans

É possível acreditar que o filme A Praga tenha sido realmente amaldiçoado em algum momento de sua produção. Afinal, o média-metragem de José Mojica Marins (1936-2020), o Zé do Caixão, que finalmente chegou aos cinemas, passou por maus bocados e durante muito tempo foi visto como um filme perdido. Acreditava-se que ele nunca veria a luz da madrugada.

Primeiramente, o filme, que nasceu de um roteiro do quadrinista Rubens Lucchetti, era o projeto de um episódio de 50 minutos para a televisão. Nunca foi ao ar e, para piorar, o material se perdeu em um incêndio no acervo da TV.

“A Praga foi escrito para Além, Muito Além do Além, programa da TV Bandeirantes que era apresentado por Zé do Caixão às sextas, entre 23 horas e meia-noite. A atração foi exibida em 29 de dezembro de 1967”, explica Lucchetti ao Estadão. “O Mojica, como sempre, apenas me sugeriu a ideia da história: um sujeito amaldiçoado por uma bruxa que tem de ‘se alimentar de carne’.”

RESILIÊNCIA. Em 1980, o resiliente Zé do Caixão resolveu voltar ao texto e fazer um filme. Mas não concluiu as filmagens por falta de dinheiro e os rolos se perderam.

A situação começou a mudar em 2007, quando o produtor e pesquisador Eugênio Puppo estava preparando uma retrospectiva de Mojica em parceria com o Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo (CCBB-SP) e a Cinemateca. “Ao longo das últimas semanas dessa pesquisa, que durou quase cinco anos, descobri cerca de 20 rolos de filmes em Super 8, que estavam originalmente destinados ao descarte. Ao colocar os filmes em uma mesa enroladeira e seguir as indicações fornecidas por Mojica, confirmei que se tratava de A Praga”, lembra.

Porém, a situação não se resumia a juntar tais rolos e colocá-los no ar. Para começar, era preciso um trabalho de restauro, além de gravar algumas cenas incompletas e fazer a dublagem. Puppo até tentou pôr a obra na retrospectiva de 2007, mas não era o ponto final. O filme ainda necessitava de muito cuidado: digitalização em alta resolução, revisão da montagem, finalização de som e imagem e criação de trilha sonora original

“Ao longo dos anos, buscamos financiamento para a pós-produção, inscrevendo o projeto em vários editais, mas não fomos contemplados. No início de 2021, decidi investir recursos próprios na criação dessa nova versão. Para chegar à versão final, o material original em Super 8 foi escaneado quadro a quadro e digitalizado em resolução 4K no laboratório ColorLab, em Rockville, nos Estados Unidos. Em seguida, o filme foi editado e recebeu nova mixagem sonora”, explica Puppo, sobre o processo de restauração.

Com a estreia no cinema, enfim, o filme quebra a maldição de 40 anos. A história é simples, como eram os programas de Mojica para a TV, mas traz a mais pura essência de Zé do Caixão para as telonas – três anos após sua morte. É como um renascimento desse personagem tão emblemático e que ainda encontra espaço nas telas

ESSÊNCIA. O resultado da recuperação do material enche os olhos do público. De um lado, a imagem está cristalina – parece que o filme foi rodado recentemente. Enquanto isso, a voz, dublada postumamente que até contou com leitura labial feita por uma profissional surda-muda, traz a essência da trama.

“Mojica foi um verdadeiro gigante do cinema brasileiro, pois não apenas realizou grandes experimentos com a linguagem narrativa, criando cenas surreais por meio de posições e movimentos de câmera incomuns, mas também foi um transgressor tanto em forma quanto em conteúdo”, afirma Puppo.

Mojica explorou os aspectos mais sombrios e reprimidos da sociedade brasileira, questionando tabus e provocando reflexões sobre a condição humana. Sua coragem em desafiar convenções e sua habilidade em criar narrativas envolventes e visualmente impactantes fazem dele um dos cineastas mais influentes do cinema nacional. O lançamento de seu último filme inédito de que se tem conhecimento é uma forma de homenagear sua brilhante trajetória.

Em A Praga, por exemplo, muito desse seu cinema surge em comentários sobre a masculinidade frágil e a violência contra as mulheres. Claro, há muitas cenas assustadoras que, com a revitalização, ficam ainda mais sanguinolentas. “Os filmes do Mojica têm espaço nos cinemas, já que são sui generis”, resume Lucchetti. “Não há nada igual a eles.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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