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E vamos à luta

Hoje passou um filme na minha cabeça, acredito que coin­cidiu com a passagem de ano, que me fez lembrar da minha vida, da minha história. Menino de sete anos, morando na pensão que minha mãe mantinha, quando me perguntavam o que eu ia ser quando crescer eu dizia caminhoneiro, porque era esse meu mundo, buscar cachaça para os caminhoneiros que iam almoçar na pensão da mamãe. Mais tarde a pensão passou a ser feminina, moças estudantes universitárias que passaram a elogiar o meu ritmo musical, pois vivia batendo um samba na mesa e elas diziam a minha mãe que eu ia ser músico. Situação difícil, crise do petróleo de 1973, mãe e pai desempregados, aí vamos nós para São Paulo com uma mão na frente e outra atrás, como diriam os pobres da época. Chegando lá ficamos na casa da prima, mas isso não poderia permanecer. Pai e mãe fazendo bico numa sauna de São Ca­etano do Sul, até meu pai arrumar emprego em uma fábrica, que maravilha. Alugamos uma casa na periferia e fomos pra lá naquela fartura, farta cama, fogão, geladeira, televisão, mesa, guarda roupa, etc, mas tinha colchão e espiriteira e dois cobertos. Meu pai fazia arroz com lentilha e uma mis­tura com carcaça de frango e molho, pois eram comidas que precisavam de pouco álcool. Para quem não conhece uma espiriteira é uma boca de fogão que você botava álcool e fogo e ela resistia até o combustível acabar. Resumindo, foi um ano comendo arroz com lentilha, pois cozinhar feijão gastaria muito álcool. A vida foi melhorando, mamãe foi trabalhar no hospital, nós estudando, depois meus pais passaram em concursos públicos e a vida se estabilizou. Entretanto, viver em São Paulo não é fácil para pobre. Para mim, o único da família que conseguiu cursar o terceiro grau, a tarefa era ár­dua, acordar 4h30 da manhã, pegar dois ônibus com percurso de duas horas e ir trabalhar até 17h30. Saindo do trabalho ir sem comer direto para a faculdade até 22h45. Chegava em casa 23h40, comia o que tinha e dormia, pois no outro dia o relógio despertava às 4h. Consegui pegar umas aulas e iniciar a vida no magistério aos 20 anos, em setembro de 1986, e assim fui melhorando a minha vida e dando aulas em esco­las estaduais, entretanto, nas periferias que ninguém queria ir, tais como Jardim Ângela em Santo Amaro e Sapopemba. O tempo foi passando, e como eu me encontrei na educa­ção a minha vida foi melhorando. Hoje me sinto realizado e agradeço a Deus por tudo que me deu, pois da onde vim e as dificuldades que enfrentei, sou um sobrevivente e um vence­dor. Como disse Gonzaguinha: “Eu acredito é na rapaziada, que segue em frente e segura o rojão. Eu ponho fé é na fé da moçada, que não foge da raia e enfrenta o leão”.

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