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Carmen Cagno: Cultura para todos

Durante 60 anos, Ribeirão Preto teve uma Biblioteca que serviu grande parte da população com seu acervo de livros, pesquisas e cursos. Aos poucos, porém, a Biblioteca Altino Arantes foi perdendo seu brilho e sua função, desgastada pela falta de recursos e cuidados apropriados.

            Situada no centro da cidade, a biblioteca era uma das heranças deixadas para a cidade por uma de suas mais notórias personagens: Theolina de Andrade Junqueira, mais conhecida por dona Sinhá, uma rica e poderosa fazendeira.

            Casada com o “coronel” Quito Junqueira e sem filhos, Sinhá Junqueira fugia ao padrão das mulheres da época, limitadas aos cuidados caseiros, tendo participação ativa nos negócios da família e consequentemente um importante papel social. Quando morreu, deixou um testamento com quatro Fundações: Fundação Sinhá Junqueira, Fundação Maternidade Sinhá Junqueira, Fundação Educandário Coronel Quito Junqueira e Fundação Biblioteca Altino Arantes. Todas administradas por pessoas de sua confiança. Não era pouco para uma cidade do interior, nos anos 50.

            Abrigada no palacete que pertencera ao casal, a Biblioteca ocupou a construção do início dos anos 30, o Palacete Junqueira, projetado pelo arquiteto Francisco Ramos de Azevedo, reconhecidamente o mais renomado nas primeiras décadas do século XX em São Paulo. A belíssima casa, rodeada de jardins e situada em frente à praça XV, manteve suas características e um riquíssimo acervo decorativo durante todos esses anos, graças a sua função social, até ser tombada como patrimônio histórico.

            Com poucos recursos, porém, a Fundação Biblioteca deixou aos poucos de poder cuidar do imóvel e de seu precioso acervo. Mobiliário, vitrais, trabalhos em madeira, pisos e obras de arte, a maioria produzida pelo Liceu de Artes e Ofícios e hoje considerada raridade, foi se desgastando. Além disso, o local não contava com equipamentos adequados e o acervo estava comprometido.  Preocupados com o destino do imóvel, seus administradores o transferiram para a Fundação Educandário, que, além de prestar durante décadas um importante serviço social para a cidade, tem mais recursos.

            Dessa forma, passou a ser possível um projeto de restauro e reocupação do Palacete, o que foi feito com os melhores profissionais do país. O projeto de restauração ficou a cargo da arquiteta Maria Luísa Dutra, responsável,  entre outros, pelo restauro do Mercado Municipal de São Paulo e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, a FAU. E a coordenação do trabalho será da Companhia de Restauro, também de São Paulo.

            A melhor notícia, porém, será a construção anexa de um espaço de 900 m2, projetado pelo arquiteto Dante Della Manna, onde funcionará um grande centro cultural, com atividades para todos os públicos, recursos e tecnologia contemporâneos, como anfiteatro, área de informática, acervo atualizado, café, cursos e palestras. E o melhor: aberto para a cidade, num local de fácil acesso. Construído em estrutura metálica e vidro, com dois pavimentos, o novo Centro Cultural seguirá o conceito das bibliotecas-parque, como a Biblioteca São Paulo, erguida no antigo Carandirú, e a Biblioteca do Parque Villa Lobos, ambas em São Paulo.

            Com previsão de inauguração para o início de 2020, esse generoso espaço deverá ser responsável pelo início de uma nova etapa para a cidade, tão castigada nas últimas décadas pela má administração, a indiferença e o descuido. A população de todos os extratos sociais terá acesso fácil à cultura e à tecnologia a serviço do conhecimento.

            Boas novas.

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