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Café com fumaça

Entregamos na última segunda-feira, dia 19 de junho, aniversário de 167 anos de Ribeirão Preto, a locomotiva Borsig “Amália nº 12”, completamente restaurada, com todas as suas peças originais. Ela foi instalada em sua casa nova e definitiva; a miniestação ferroviária Luiz Henrique Paschoalin, no Parque Maurílio Biagi. O abrigo em forma de estação foi batizado em homenagem ao agente cultural de mesmo nome, falecido em decorrência de complicações da covid, em 16 de janeiro de 2021, aos 58 anos.

A estação ferroviária é um espaço cercado, mas com a pos­sibilidade de a população ver a locomotiva. A miniestação con­ta também com um espaço interno para visitas. A locomotiva e os 30 metros de trilhos que a sustentam são os últimos resquí­cios da Estação Ribeirão Preto, construída na Vila Tibério, que funcionou a partir de 1885 e foi demolida em 1968.

Patrimônio histórico, cultural e ferroviário de Ribeirão Pre­to, depois de quase meio século ao relento, à mercê do tempo e de todo tipo de vandalismo, a Amália nº 12 – também chamada de Maria-fumaça – passou os últimos três anos em processo de restauração, ganhando agora um abrigo seguro e digno de sua história. Desde 1973, a Amália nº 12 ficou exposta sobre seus trilhos na praça Francisco Schmidt, onde sofreu todos os tipos de vandalismo e ocupação de pessoas em situação de rua, nos 47 anos seguintes. Também teve furtadas suas peças de cobre, ferro e aço.

O péssimo estado da locomotiva a transformou num sím­bolo da destruição do patrimônio ferroviário, justamente numa das cidades que mais se desenvolveram a partir da ferrovia, que aqui chegou por conta da grande demanda de exportação do café, logo no começo do ciclo cafeeiro. Justamente por isso, há décadas entrou na pauta de preservacionistas, agentes culturais e apaixonados por ferrovias e locomotivas. Foi então que em 2020 conseguimos recursos para sua total restauração, que du­rou três anos e foi feita em Campinas, onde estava uma réplica da locomotiva. São apenas três as remanescentes da marca ale­mã no país. As outras duas estão em Itapetininga e Jaguariúna.

Entregar a “Amália 12” totalmente restaurada à população é muito mais que resgatar uma máquina histórica. É levar conhecimento sobre um período em que o café era o principal produto da região, com forte comercialização no Brasil e no exterior. E eram as locomotivas que escoavam o produto das regiões cafeeiras (Ribeirão Preto entre as mais importantes) para os mercados interno e externo, permitindo a entrada de divisas no país.

Não só por seu significado econômico, mas também como meio de transporte, a construção de ferrovias era reivindicação de praticamente todas as cidades na segunda metade do século XIX e início do século XX. Por isso, produtores, empresários e lideranças políticas trabalhavam incansavelmente para ter aces­so ao transporte sobre trilhos, para cargas e passageiros. Ter uma ferrovia passando pelo município era sinal de prestígio e desenvolvimento econômico acelerado.

É sobre esse período de singular significado para nossa his­tória econômica, social e cultural que as pessoas terão conheci­mento ao visitar a locomotiva. As visitas serão monitoradas por técnicos da Secretaria de Cultura e Turismo, que detalharão a história da ferrovia, do café, das origens da nossa cidade e os ciclos vividos no município até os dias de hoje. É importante que a história esteja na memória de todos para não esquecer­mos nossas raízes. Conhecendo o passado, vivemos melhor o presente e temos mais chances de acerto ao planejar o futuro.

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