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‘Apagão’ em SP expõe o desastre da privatização 

Valdir Avelino * 
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Desde a última semana, a cidade de São Paulo está vivendo um caos devido ao apagão provocado por fortes chuvas e a falta de capacidade logística e operacional da empresa, privatizada, em restabelecer a energia na casa dos paulistanos. Absurdamente, como se fossem alvo de ataques de guerra, cerca de 400 mil famílias continuam sem energia elétrica na cidade que é capital do estado mais rico do país. Os transtornos causados pelas chuvas não se limitam a energia dentro de casa. Mais de 650 semáforos chegaram a ficar sem funcionar nos últimos dias, tornando o transito caótico da capital em algo ainda pior. A energia em São Paulo é gerida pela Enel, empresa privada com sede na Itália. A antiga estatal Eletropaulo foi adquirida em junho de 2018 pela multinacional durante o governo Temer. 
 
Apesar do drama já ter se tornado um velho conhecido dos paulistanos, a situação causa imensa indignação. No seu programa sobre esporte, até mesmo o apresentador Neto criticou a empresa Enel por conta da falta de energia que atingiu mais de 2 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo. O jornalista esportivo também ironizou o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB): “Se a gente deixar de pagar (a conta de luz) à Enel, eles sabem onde vão. Parabéns para o prefeito, para o governador, vocês devem ter luz aí. A casa de vocês não estragou”, afirmou Neto. 
 
É no meio desse apagão na capital do estado que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas tenta se desvencilhar dos problemas relacionados à Enel para continuar defendendo o indefensável: a privatização da Sabesp. Ora, se simples chuvas levaram à interrupção na distribuição de energia na capital paulista, qualquer dificuldade climática deixará os paulistanos também sem água. Não é possível que diante do fracasso evidente da privatização ainda há quem defenda entregar a principal companhia de saneamento do estado para grupos privados! 
 
A demora da empresa privada em garantir o restabelecimento da energia na capital do estado deixa claro a falta de investimento privado em recursos técnicos e humanos. Se uma empresa privada que detém o monopólio da energia da casa dos paulistanos leva mais de uma semana para emendar fios, quanto tempo demoraria uma empresa privada para consertar ou manter em funcionamento a estrutura subterrânea do sistema de abastecimento de água? É evidente que apenas uma empresa pública possui capacidade técnica e operacional de coordenar os planos de recursos hídricos, identificando as lacunas, implementando estratégias abrangentes, construindo consenso entre as partes interessadas, orientando a ação concreta no sentido de garantir o progresso na realização das metas. 
 
A meta das empresas privatizadas é outra: o lucro dos acionistas! Mesmo sendo da área esportiva, Neto apontou uma questão crucial ao criticar o prefeito e o governador: a falta de investimentos como causa de desigualdade entre as pessoas. O setor privado não investe o lucro dos acionistas para garantir que bairros de classe média, populares ou de baixa renda  tenham acesso à energia nas mesmas condições que os bairros luxuosos da capital. Assim, fica claro que a privatização de empresas públicas resulta sempre em serviços caros, péssimos e demorados. O apagão ainda não resolvido na capital e em cidades da região metropolitana não deixa dúvida de que terceirizar serviços essenciais não é o caminho, como pretende o governador Tarcísio de Freitas fazer com a Sabesp, Metrô e CPTM. 
 
* Presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, Guatapará e Pradópolis 

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