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Sócrates no ‘Politeama’ de Chico Buarque

Sócrates e Chico Buarque tornaram-se amigos assim que o Doutor foi jogar no Corinthians. Sempre que podiam, trocavam visitas. Chico, no seu Rio de Janeiro, tinha e ainda tem um time de futebol, o“Politeama” – também é dono da bola e do campo, isso lhe dá o direito de se escalar, era ele e mais dez.

Sócrates, muitas vezes quando jogava em Sampa – segunda-feira era folga geral –, voava para o Rio de Janeiro e ficava no apê do músico, pois queria participar das peladas com seu amigo, lá no Recreio dos Bandeirantes. Programa obrigatório mas tardes de segunda-feira para a maioria dos artistas apaixonados por futebol.

Em nossos papos, Magrão dizia que Chico organizava campeonatos com vários times formados por artistas de teatro, da televisão, cantores e músicos que tocavam com eles e que o bicho pegava pra valer. Os campeonatos tinham regulamentos como os dos profissionais, com juiz, bandeirinhas e tudo mais que exige um grande jogo.

Quando começavam os campeonatos, era o assunto preferido no meio artístico. Magrão dizia que os jogos eram acirrados e o pau quebrava quando algum artista, inconformado e de cabeça quente, levava cartão vermelho – até imagino a cena (rsrsrs). Magrão ria muito quando se referia a Chico em campo.

O Doutor e Toquinho, que também jogava no time do compositor, diziam que Chico em campo era o retrato do jogador argentino: provocador, entrava duro, xingava, tudo porque não suportava perder. Toquinho disse que ele brigava até em partidas de jogo de botão – campeonatos que ele também criava. Fora disso era uma pessoa dócil de se tratar.

Chico, quando menino, morava em São Paulo e teve como ídolo o jogador “Pagão”, atacante do Santos. Ia vê-lo jogar no Pacaembu, gostava tanto de “Pagão” que até hoje imita seus gestos em campo. Numa das peladas no “Politeama”, após o banho, Júnior, lateral do Mengo que toca percussão, levou seu pandeiro e convidou ,amigos sambistas para animar o pós-jogo, o popular “birinaite”.

Sócrates viu Chico no balcão fazendo anotações e foi perguntar o que ele escrevia, e o compositor disse que, naquele momento, vendo aquela linda batucada, surgiu a ideia de um lindo samba e que quando estivesse pronto mostraria ao Magrão Algum tempo depois, Chico mostrou pra ele o maravilhoso samba “Vai passar” e disse: ”Essa você viu nascendo”.

Participei de duas peladas aqui em Ribeirão Preto, com a presença de Chico e seus músicos, contra Sócrates, seus irmãos, filhos e amigos. A primeira foi na chácara de Zé Strambi, a segunda foi no Tênis Clube, próximo a Bonfim Paulista. Nesse jogo ele teve de seu lado, além do Magrão, o quinto filho dele, Sócrates Junior. Junior deixou Chico de queixo caído pela sua maneira de tocar na bola, sempre de primeira e passes perfeitos, deixando-o várias vezes em situação de gol. Chico fez até lobby para levar o garoto pro seu Fluminense, mas não virou.

Voltei minha fita por alguns anos, parei num comentário de Sócrates no programa Cartão Verde, justamente quando Neymar estava sendo negociado com o Barcelona. Disse o Magrão: “O que Neymar vai fazer lá? Dinheiro? Ora, dinheiro ele já ganhou o bastante para o resto da vida, ele já está rico, se for pela fama, famoso já é no mundo todo. Dinheiro não é nada, o importante é ser feliz”. Neymar hoje já fala em deixar Paris e seu PSG, até perdendo grana. Não está feliz.

Sócrates, ao voltar da Itália, foi morar no Rio de Janeiro e jogar no Flamengo, mais um time de massa. Aí, sim, ele estava no seu pedaço e pôde voltar a jogar suas peladas no campo do Chico, que tratou logo de armar uma partida de recepção ao amigo, muito chope e roda de samba e a coisa entrou madrugada dentro.

Chico, com Sócrates jogando no seu time, foi campeão seguidas vezes, o que quase não acontecia antes. Mas o compositor não marcava bobeira: ia buscá-lo em casa por medo do Magrão tomar outro rumo.
Sexta conto mais.

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