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Adeus Corona velho! “Feliz” Corona Novo?

A tradicional música protagonista do Reveillón desde que me conheço por gente parece ter ganhado um novo sentido ao ser incorporada ao contexto da Pandemia em 2022. Quando pensávamos que o nosso inimigo comum estava arrefecendo, indo embora, ele mostrou que é mais forte e “inteligente” do que imaginávamos. Mas ao que tudo indica, o Coronavírus velho se foi, ou pelo menos se enfraqueceu, abrindo espaço para o Coronavírus novo, mais conhecido por variante Ômicron. Segundo alguns especialistas em virologia, o vírus que provoca a covid pode estar mudando para uma versão menos agressiva para sobreviver. Ela não mata seu hospedeiro, pois matar, significa seu próprio suicídio.

A expectativa otimista é de que a pandemia mude para o estágio da endemia. Será? Torço para que assim seja, mas continuo amparado pela máxima de Sócrates, o filósofo e não o nosso querido ídolo do futebol: só sei que nada sei. O que parece certo, ao me­nos, é que a Ômicron se dissemina mais rápido, mas não provoca sintomas tão graves. Mesmo assim, quando alguém se vê positivado para covid, vêm o pavor e a dúvida. E essa sequela psicológica, vamos levar anos para entender e curar. E ela é muito mais séria do que se imagina. Estatísticas já disponíveis em vários estudos mostram que as doenças comportamentais e psíquicas mais do que triplicaram de três anos para cá.

Mas com a contaminação mais rápida, mais pessoas estão sendo infectadas ao mesmo tempo, causando colapso em alguns setores com falta de prestadores de serviços, inclusive no setor da saúde. Por isso, novas medidas de prevenção foram anunciadas pelo poder público, bem como a ênfase na importância de se manter os protocolos sanitários e a vacinação em dia.

Sobre a vacina, tomei as três doses. Se tem um país que tem tradição em vacinação é o Brasil. Mas as vacinas estão em uso emergencial, se fosse em uma situação normal não estariam sendo aplicadas ainda. Conheço várias pessoas que também tomaram e mesmo assim se infectaram. Não vou entrar em polêmicas que existem nessa questão, mas uma coisa é certa, as pessoas que foram vacinadas enfrentam melhor a doença.
Em Ribeirão Preto, as estatísticas mostram o resultado de uma boa gestão. Até o dia 11 de janeiro de 2022, a cobertura vacinal contra a covid-19 no município estava com 90% da população recebendo a primeira dose, 80% a segunda dose e 35% com a terceira dose. Entre os jovens e adolescentes (12 a 17 anos) estava com 79% da primeira dose e 31% da segunda dose.

Mas nessa etapa da pandemia me parece que a testagem mais rápida se faz necessária para conter, pelo menos um pouco, a transmissão e dar mais segurança para quem tem de fazer isolamento. No Brasil, testagem rápida só para quem pode pagar, e mesmo assim estamos correndo risco de desabastecimento dos kits de testes em várias regiões. Na grande parte dos serviços públicos e planos de saúde, quando o paciente consegue fazer, o resultado demora a sair.

“Muito dinheiro no bolso, saúde para dar e vender”
Assim continua a nossa música de boas-vindas ao ano que se inicia. Já falamos da saúde e que ela é nossa maior meta para 2022. Mas o dinheiro e o bolso? Os interesses econômicos e políticos estão envolvidos de uma forma muito importante nesse assunto. O desencontro de informações na ciência e na política acabou criando dois lados, dividindo, em vez de somar esforços para enfrentarmos esse momento. Isso foi fatídico para piorar a situação. Mas ainda é tempo de promovermos uma nova ordem mundial. Urge reorganizarmos as nossas grandes entidades representativas como Organização Mundial da Saúde (OMS) para que tenhamos uma diretriz mais coesa e coordenada, com objetivos bem transparentes. Na Pandemia, as orientações globais vêm da OMS, onde também existem influências políticas e, claro, econômicas e ideológicas.

Do ponto de vista econômico, muitos setores se viram com dificuldades e tiveram que se adaptar frente às restrições sanitárias. Alguns não conseguiram e sucumbiram a ela. Contudo, essa adaptação também fez com que alguns segmentos disparassem e crescessem em meio à crise, inclusive e principalmente a área da saúde.
Continuando na economia, perdemos a oportunidade de fazer as reformas fun­damentais. Interesses “maiores” falaram mais alto do que os interesses do país. Não existe ganha-ganha nesse jogo. Temos que ter “perdedores” individuais e setoriais para que as reformas tenham efeito no campo coletivo. Mas, não adianta chorar o leite derramado. Urge pensarmos no nosso papel na sociedade para exercermos uma cidadania participativa e continuarmos a lutar por essas mudanças.

A mídia tradicional também pode contribuir, tem capacidade para isso. Mas o que vemos, na grande maioria, é cobertura massiva das catástrofes. Quanta coisa boa e positiva está sendo feita pelo mundo e que poderia servir de inspiração e ter mais espaço nos veículos jornalísticos.

Por outro lado, nas redes sociais, os influenciadores digitais ficam mais preocu­pados com o engajamento, as métricas e o aumento de seu número de seguidores, como se fossem líderes de uma seita. Parece que cada um vive na sua bolha e esque­ce que tem um mundo lá fora que clama por transformações consistentes para que possamos continuar vivendo com um mínimo de dignidade.

Fazendo uma analogia ao lema do velho guerreiro Chacrinha, desculpem-me se eu mais os confundi do que expliquei. Mas senti necessidade de expor essas reflexões. Pode ser até que ao lerem este artigo muita coisa já tenha alterado nesse cenário pois o dinamismo do mundo atual é assustador. Por fim, me aproprio da música que me inspirou a escrever esse artigo para dizer que espero “que tudo se realize no ano que vai nascer”, aliás, que já nasceu. Mas essa realização, depende de nós, da nossa atitude. Vamos agir diferente para ter um 2022 diferente.

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