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Ciência e Tecnologia

A Grande Procissão de Meteoros de 1913

Você provavelmente já viu um meteoro. Com sorte, talvez já tenha presenciado um bólido, que é um meteoro muito luminoso. Mas com certeza, você nunca viu uma procissão de meteoros como a que ocorreu em 1913.

Por volta das 9 horas da noite de 9 de fevereiro de 1913, um fenômeno, no mínimo intrigante, surpreendeu os moradores de Ontário, no Canadá. Uma bola de fogo avermelhada surgiu no céu, a noroeste. Ela tinha uma longa cauda e moveu-se lentamente até desaparecer no horizonte sudeste. Antes que o espanto gerado por este primeiro meteoro tivesse diminuído, outros deles foram surgindo do noroeste, movendo-se na mesma velocidade e na mesma direção. Por fim, um meteoro bem mais luminoso cruzou o céu seguindo a mesma trajetória.

Os meteoros normalmente são rápidos e não duram mais que alguns segundos. Mas, naquela noite, cada um daqueles meteoros levava cerca de 5 minutos para cruzar o céu. Além disso, eles surgiam uns atrás dos outros, em uma formação quase perfeita. Por cerca de 10 minutos, dezenas deles foram vistos, no evento que ficou conhecido como A Grande Procissão de Meteoros de 1913.

Outra característica marcante, e que diferencia esse caso de qualquer outro evento conhecido, é a enorme distância percorrida pelos meteoros. Em um levantamento feito na época, o astrônomo canadense Clarence Chant coletou os relatos de cerca de 100 testemunhas ao longo de uma faixa de 4,5 mil quilômetros desde o Sul do Canadá até as Ilhas Bermudas, no Oceano Atlântico.

Mas em um estudo publicado em 2013, os pesquisadores Don Olson, da Universidade Estadual do Texas, e Steve Hutcheon, da Associação Astronômica de Queensland na Austrália, vasculharam um enorme acervo de diários de bordo de navios da época. Eles descobriram relatos até então desconhecidos, o que estendeu ainda mais a faixa de visibilidade daquele evento. Segundo eles, a Grande Procissão de Meteoros de 1913 foi observada por centenas de pessoas por todo o sul do Canadá, norte e nordeste dos Estados Unidos, nas Ilhas Bermudas, em navios no Oceano Atlântico até na costa nordeste do Brasil. Uma faixa que totaliza mais de 11 mil quilômetros de extensão, o que é mais de um quarto da circunferência da Terra.

A relativa lentidão, a longa duração e a extensa trajetória são características dos earthgrazers, meteoros que atingem a atmosfera de raspão e geralmente retornam ao espaço depois de percorrer enormes distâncias. Mas não há conhecimento de casos de meteoros earthgrazers que tenham chegado nem perto de atingir 11 mil km.

Mais de cem anos se passaram e até hoje não existe uma explicação científica definitiva para esse evento. A baixa velocidade e a extensão da trajetória sugerem que, naquela noite, a Terra foi atingida por algo que já estava, há algum tempo, em órbita do nosso planeta.

Diversos astrônomos se empenharam em explicar o fenômeno desde então. Alguns sugerem que ele tenha sido provocado por um pequeno satélite natural da Terra, uma minilua, que acabou atingindo nosso planeta. Outros propõem que seriam fragmentos remanescentes de um anel que circundava a Terra.

Mas a teoria que parece mais consistente é de que a procissão teria sido gerada por um asteroide capturado para a órbita terrestre, e que teria se fragmentado, alguns dias antes, por ação das forças de maré.

Os fatos ocorridos naquela noite de 9 de fevereiro de 1913 até hoje intrigam os astrônomos e são estudados por pesquisadores da área. Um evento sem precedentes na história, mas que só foi registrado através dos relatos dos observadores e de uma pintura de Gustav Hahn. Tudo isso torna a história da Grande Procissão de Meteoros de 1913 ainda mais fascinante.

Texto por Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia – APA; membro da SAB – Sociedade Astronômica Brasileira; diretor técnico da Bramon – Rede Brasileira de Observação de Meteoros – e coordenador regional (Nordeste) do Asteroid Day Brasil

Via Olhardigital

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