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Alice e Sebastiana

Os nomes das ruas e dos bairros de uma cidade transfor­maram-se na sua impressão digital porque documentam não apenas a cultura de seu povo, como a inclinação política de seus administradores.

Em Paris a orientação foi preservar valores históricos. Quem sai do Museu do Louvre pela porta da Rua do Rivoli, tomando o lado direito, aproxima-se do bairro denominado “Marais” que, como o nome indica, acompanha a margem do Rio Sena. O vocábulo “marais” em francês significa “brejo”. Ninguém ousa trocar o nome da área, onde estão instaladas inúmeras lojas como também um pedaço importante da história do seu povo.

Descendo pelas ruas do Montparnasse encontra-se uma de­nominada Rua do Sabot, o que em português significa Rua do Tamanco. O nome registra o período de industrialização da ci­dade, com a instalação de muitos teares. Os operários, naqueles tempos, calçavam tamancos com sola de madeira. Resolviam seus conflitos trabalhistas lançando seus tamancos nas máqui­nas, causando enormes prejuízos. O vocábulo francês tamanco (“Sabot”) gerou “sabotagem” em inúmeras línguas, inclusive em português. Os franceses, para perpetuar sua história, como se vê, mantém o nome da rua para documentar o fato histórico.

A cidade de Ribeirão Preto nem sempre seguiu o exemplo francês, mas em determinados locais, a sua história foi pre­servada. As ruas que envolvem o Hospital São Lucas foram batizadas com os nomes de nossos poetas. Uma delas consa­grou Olavo Bilac.

No alto da cidade reservaram outro local para perpetuar os soldados paulistas, nascidos na cidade que, heroicamente, morreram na Revolução de 1932. Uma daquelas ruas recebeu o nome do soldado Airton Roxo, que sacrificou a vida lutan­do pela democracia.

Mas, a necessidade de preservar o passado nem sempre inspirou os nossos administradores.
Na minha infância a Rua Mariana Junqueira era conhecida como Rua do Comércio. Não seria difícil homenagear a memória daquela nobre senhora, deslocando seu respeitado nome para outro local, respeitando a tradição anterior que identificava a importantíssima rua do centro da cidade como local de desenvol­vimento de atividade comercial. Trocaram o nome da rua.

O mesmo se deu com a Vila Tibério. A rua que ligava o bairro com a Escola de Agricultura, hoje Universidade de São Paulo, era conhecida como “Corredor dos Calabreses”. Os antigos moradores do local afirmam que o Corredor dos Calabreses foi substituído por Rua Paranapanema.

Seguramente o vocábulo “Paranapanema” deve ter enorme importância para a nossa cidade, mas que, jamais se aproxi­mará daquilo que aqui fizeram os calabreses, que, com seu sacrifício e enorme trabalho, ergueram a cidade que se con­verteu no seu novo lar e na nova casa de seus filhos e netos.

Mas, outros lugares documentam a nossa história. A Rua Leais Paulistas eternizou a bravura dos nossos soldados vivos e mortos que tanto lutaram pelo Estado Democrático na Re­volução Paulista como na Segunda Grande Guerra.

Na sua continuação está a Rua General Estilac Leal, militar brasileiro que vigorosamente impediu que soldados brasileiros, ao lado dos americanos, invadissem a Coréia, instalando um conflito bélico até hoje não resolvido.

Em busca do registro histórico do Brasil e de Ribeirão Pre­to, seria importante batizar dois locais com os nomes das irmãs Alice e Sebastiana Garcia que se imortalizaram como profes­soras do Primeiro e do Segundo Grupo Escolar, na década de quarenta. Eram mulheres e negras. Lembro-me que todas as famílias procuravam ardentemente colocar seus filhos em suas classes. Fui aluno da Professora Alice Garcia em 1948.

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