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A fritura pública de Joaquim Levy

Não foi nenhuma surpresa o método novamente utilizado pelo presidente Bolsonaro para demitir o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico). Já havia feito o mesmo no início do mandato com Gustavo Bebiano, que era ministro da Secretaria-Geral da Presidência. A falta de com­postura de Bolsanaro desta vez causou grande constrangimento dentro do governo e no mercado. Para a imprensa, ele amea­çou Levy de demissão sem o aval de Paulo Guedes. Mas dessa vez, a situação foi bem mais séria porque atingiu um nome que ocupava um posto-chave na área econômica do governo e era de grande confiança do empresariado.

Antes que Gustavo Montezano fosse anunciado para subs­tituir Joaquim Levy na segunda passada, alguns dos cotados para o cargo se queixaram degrande mal-estar, pois poderia lhes acontecer o mesmo. O desgaste acabou atingindo o próprio Paulo Guedes quando tentou explicar o inexplicável. Ele afirmou entender o presidente: “É natural ele se sentir agredido quando o presidente do BNDES coloca em uma das diretorias do Banco um nome ligado ao PT”, disse. Ele se referia a Marcos Pinto, nomeado por Levy. Ambos trabalharam nas gestões de Lula e Dilma. Guedes só se esqueceu de dizer que Levy foi indicado justamente por ele a Bolsonaro.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), reagiu. Afirmou que a demissão de Levy foi “uma covardia sem pre­cedentes”. Para Maia, é uma pena o Brasil ter perdido dois quadros da qualidade de Levy e Marcos Pinto que, aliás, nunca foram filiados ao PT. Levy deixou uma diretoria do Banco Mundial nos EUA para traba­lhar no governo. “Está errado, não pode tratar as pessoas deste jeito. Se é para demitir, chama e demite. Ninguém é obrigado a ficar com um servidor de confiança se deixou de ser de confiança. Agora tratar os dois desta forma, eu achei muito ruim”, disse Maia. O fato é que mais uma cizânia corrói as relações entre o governo e o Congresso.

O jornalista Reinaldo Azevedo, que nunca deu trela ao PT, critica o tom agressivo de Bolsonaro; “A expressão ‘cabeça a prêmio’ pode ficar bem na boca de caçador de recompensa, capitão do mato ou miliciano. Na de um presidente da Repúbli­ca, nunca!” Bolsonaro se referiu a Marcos Barbosa Pinto como “este cara”. A exemplo de Levy, é um nome considerado técnico e tido como profissional de alta reputação pelo mercado. Indaga Azevedo: “E daí? Bolsonaro acha que ele não tem, vamos dizer, o viés ideológico necessário para a função?” Representantes do mercado defendem a tese de que a economia precisa de nomes técnicos, independentemente de partidos e coloração ideológica.

Como o capitalismo brasileiro só funciona com as benesses do Estado, o mercado estressou com a fritura de Levy. Há claramente um temor por parte dos empresários em relação ao sucessor devido à possibilidade de uma interferência política tresloucada.Para José Roriz Coelho, ex-presidente da FIESP e presidente da Associação da Indústria Plástica (ABIPLAST), Levy era um dos melhores quadros do governo: “É um excelente nome, foi corajoso ao levantar questões importantes como a redução do tamanho do Estado quando minis­tro do governo Dilma. É muito ruim perder um nome como ele em um momento como este, em que o Brasil precisa de reformas”.

Bolsonaro só não aplicou o mesmo método com o Ministro San­tos Cruz, demitido poucos dias antes, porque teria comprado uma briga muito grande com toda a trupe militar que está no governo. Aí a “cabeça a prêmio” poderia ser a do próprio presidente. Mas, de qualquer forma, cada dia mais, é grande a percepção de que este governo não tem futuro, acabou antes de começar. Como já disse o próprio Rodrigo Maia: “uma fábrica permanente de crises”. Só falta agora, o Congresso aprovar uma reforma da previdência desidratada, como não quer o Guedes, e o Moro se enrolar de vez com novas re­velações do Intercept. Sem Guedes e sem Moro, o governo não existe.

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