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Cartografia e Literatura: o Simbolismo Medieval

No início do século XI, o resgate dos lugares santos do poderio muçulmano, uma cruza­da popular e as cruzadas militares oficiais impulsionaram o conhecimento cartográfico. De tal forma que, nos dois séculos seguintes, figuras como Ricardo Coração de Leão e o papa Inocêncio III promoveram movimentos que, impulsionados por mercadores e navegantes, intensificaram tráfego e tráfico comercial e marítimo no Mediterrâneo. Estes, com seus relatos aliados às crônicas dos peregrinos, radicalizaram a visão do mundo como “contor­no geográfico e espiritual de Jerusalém”. Momento em que o desenvolvimento cartográfico era produzido regionalmente, por países, os mapas de Mateo de Paris, importante geógrafo da época, serviram de guia para peregrinos, mercadores e militares graças as suas redes de caminhos divididos em unidades topográficas, indicando quais cidades serviam de ponto de partida e de chegada.

A partir do século XIII, a busca por novas correntes de pensamento elevou a inquietude científica pela melhor concepção cartográfica do mundo. Para isso, muito contribuiu o inter­câmbio entre as culturas cristã e islâmica, bem como, a ação de Afonso X, o Sábio, monarca espanhol profundamente dedicado aos conhecimentos astronômicos, de promover a compi­lação de livros como os “Livros do Saber da Astronomia”, que abriga o mais definitivo tratado medieval sobre astrolábios – aparelhos utilizados para medir a altura dos astros acima do horizonte – e quadrantes – aparelhos que estimam alturas inacessíveis – e os “Ordenamentos para os quatro Livros das Estrelas”, cujos conhecimentos veiculados permitiram aos navegan­tes completar o desenho cartográfico da Terra. Entretanto, a contribuição maior de Afonso, o Sábio, foram as famosas “Tábuas Afonsinas”, de 1252, que trazem as correções necessárias dos cálculos de Ptolomeu, referentes ao meridiano toledano, cujo conteúdo foi extremamente necessário ao século XVI no tocante a dados astronômicos e localização de espaços via coor­denadas geográficas. Em 1350, o mapa Gough, traria uma hierarquia gráfica de cidades, com suas vias de comunicação e de indicação de distâncias. Único em seu tempo, seria acompa­nhado por outros no século XIV.

Ainda no século XIII, Raimundo Lulio, de Maiorca, também espanhol, contribuiu para as inovações científicas graças as viagens que constantemente empreendia e aos diversos idiomas que dominava. À semelhança de Sêneca, também ele intuiu a existência de um novo continen­te, para além dos mares já conhecidos, e escreveu uma obra de fôlego, na qual expô as dife­rentes teorias do universo carto­gráfico. Criador do catalão literá­rio, foi o primeiro autor a utilizar uma língua ne­olatina, originá­ria da evolução do latim, para expressar ciência, filosofia e outros conhecimentos técnicos.

Na Europa, em um processo de superação que buscava am­pliar o horizonte anglo-saxônico do mundo, destacam-se vários mapas batizados com os nomes das cidades onde foram feitos. Um exemplo? O mapa de Ebstorf, atribuído a Gervásio de Tilbury, natural de Essex, medindo 3,58m por 3,56, composto por muitas folhas, algumas das quais foram perdidas, ao longo do tempo, até sua destruição durante a Segunda Guerra Mundial, durante um ataque à cidade de Hanover. Gervásio, sediado na Universidade de Bolonha, também se dedicou à elaboração do compêndio geográfico “Otia imperialis”, cujas fábulas e mitos muito esclarecem dados do mundo medieval, e à elaboração de uma carta geográfica, utilizada como retábulo, painel de altar de igreja, ricamente detalhado, num convento de Luneburgo, sinteti­zando a cosmogonia cristã. Leibniz, em seu tempo, a ele dedicando sua atenção e comentários, seguidos de sua publicação.

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